NãO Vim TrAzer A Paz

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Livro o Evangelho Segundo espiritismo - Espírita Digital

Evangelho SeguNdo o EsPiritismo

1864

PersonAgEm

PosTs ReLacionAdos

9. Não cuideis que vim trazer a paz à Terra. Não vim trazer a paz, mas a espada, porque vim trazer a divisão do homem contra seu pai, e da filha contra a sua mãe, da nora contra sua sogra. E assim os inimigos do homem serão os seus familiares. (Mateus, capítulo 10, versículos 34 a 36.)

10. Vim lançar fogo na Terra e o que mais quero, se já está aceso? Importa, porém, que seja batizado por um certo batismo, e como me angustio que venha a cumprir-se! Cuidais vós que vim trazer paz à Terra? Não, vos digo, mas antes dissensão, porque daqui em diante estarão cinco divididos numa casa: três contra dois e dois contra três. O pai estará dividido contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra sua nora e a nora contra sua sogra. (Lucas, capítulo 12, versículos 49 a 53.)

11. Será que foi Jesus, a pessoa que representou a doçura e a bondade, que exemplificou e pregou o amor ao próximo, quem terá dito: “Eu não vim trazer a paz, mas a espada; eu vim separar os filhos do pai, o esposo da esposa; eu vim lançar o fogo sobre a Tema e tenho pressa que ele se acenda”?
Essas palavras não contradizem os seus ensinamentos?
Não é uma blasfêmia atribuir-lhe a linguagem de um conquistador sanguinário e devastador?
Não! Essas palavras não são uma blasfêmia e nem estão em contradição com os seus ensinamentos, porque foi Ele mesmo quem as pronunciou. Elas, ao contrário, dão um testemunho de sua alta sabedoria. Convém notar, no entanto, que somente a forma em que essas palavras foram colocada contém um engano. E, por isso, não exprimem corretamente o seu pensamento. E esse fato é que provocou alguns enganos sobre o seu verdadeiro sentido. Se tomadas ao pé da letra, tenderiam a transformar a missão de Jesus, toda pacificadora, em uma tarefa de perturbações e discórdias. E esta seria uma conseqüência absurda que o bom senso nos faz afastar, porque Jesus não poderia se desmentir.

12. Toda idéia nova encontra forçosamente oposição. Não houve uma só que não se estabelecesse sem lutas. A resistência oferecida à idéia nova, em todos os casos, é sempre proporcional à importância dos efeitos conseqüentes dela. Quanto maiores forem os seus efeitos, tantos mais interesses serão abalados. Se a idéia nova é notoriamente falsa, se for julgada como sem efeitos, ninguém se atemoriza com ela e a deixam passar.
É que ficam certos de sua falta de vitalidade. Mas se ela é verdadeira, se ela está assentada em bases sólidas, se for possível entrever o seu futuro entre os homens, um secreto pressentimento adverte seus antagonistas de que ela é um perigo para eles e para a ordem de coisas por cuja manutenção eles se interessam.
Eis porque eles se atiram contra a idéia e contra os seus adeptos, visando a defesa de seus interesses pessoais.
A medida da importância e dos efeitos de uma idéia nova se encontra, portanto, na emoção que ela causa no seu aparecimento, na violência da oposição que ela provoca e no grau e na persistência da cólera de seus adversários.

13. Jesus vinha anunciar uma doutrina que solapava, na base, os abusos em que viviam os fariseus, os escribas e os sacerdotes de seu tempo. Por isso, estes O fizeram morrer, julgando matar aquelas idéias com a morte de quem as propagava. Mas as idéias de Jesus sobreviveram, porque elas são verdadeiras. Elas se engrandeceram com a Cruz, porque elas estão nos desígnios de Deus. E essas idéias, anunciadas a partir de uma apagada cidadezinha da Judéia, foram plantar a sua bandeira na própria Roma dos césares, a capital do mundo pagão. Colocaram-se entre os seus inimigos mais ferozes, aqueles que tinham o maior interesse em combatê-las. É que essas idéias de Jesus rejeitavam as crenças seculares a que os pagãos se apegavam muito mais por interesses materiais do que por convicção religiosa. As lutas mais terríveis esperavam, na capital do paganismo, os Apóstolos de Jesus. As vítimas foram numerosas, mas a idéia grandiosa cresceu sempre e saiu triunfante, porque ela superava, como verdade, todas as idéias do paganismo.

14. É de notar-se que o cristianismo surgiu quando o paganismo já entrara em decadência e se debatia contra as luzes da razão. O paganismo era praticado por tradição, mas a crença nele desaparecera. Somente o interesse pessoal o sustentava. Ora, o interesse segura com firmeza as suas coisas e não cede jamais nem diante dos fatos. O interesse irrita-se tanto mais, quanto mais razoáveis são as idéias que se lhe opõem e que melhor demonstram os seus erros. Ele sabe muito bem que está errado, mas isso pouco lhe importa, porque a verdadeira fé não está em sua alma. O que o interesse mais teme é a luz que abre os olhos dos cegos e dos incrédulos. A falta de conhecimento lhe é proveitosa e, por isso, ele se aferra à ignorância e a patrocina. Sócrates, o filósofo grego, não ensinava também uma doutrina quase igual, até certo ponto, à doutrina do Cristo? Por que, então, a sua doutrina não se implantou naquela época, no meio de um dos povos mais inteligentes da Terra? É porque o tempo não era chegado para isso. Sócrates semeou aquela doutrina num campo não preparado para receber aquela sementeira. O paganismo não estava ainda bastante desgastado. O Cristo desempenhou a sua missão no tempo certo. Nem todos os homens estavam, no seu tempo, à altura de recolher as idéias cristãs. Mas havia entre eles um clima espiritual mais geral que os favorecia para assimilar essas idéias, porque eles já começavam a sentir o vazio que as crenças tradicionais deixavam na alma.
Sócrates e Platão abriram o caminho e criaram essa predisposição nos espíritos cansados das religiões moldadas pelos homens.

15. Infelizmente os adeptos da nova doutrina do Cristo não se entenderam sobre a interpretação das palavras do Mestre Jesus, as quais estavam, na maioria das vezes, veladas por alegorias e deturpações de linguagem. Daí surgiram, desde o princípio de suas interpretações, as numerosas seitas cristãs que pretendiam, cada uma delas, ser a dona exclusiva da verdade e, desde então e até agora, não se puseram de acordo com o Evangelho. Esqueceram o mais importante dos divinos preceitos, aquele que Jesus havia feito a pedra angular do seu edifício moral e a condição expressa da salvação: a caridade, a fraternidade e o amor ao próximo. E, por isso, essa seitas se condenaram umas às outras, e se atiraram umas sobre as outras, com as mais fortes esmagando as mais fracas, afogando-as em sangue, em torturas e nas chamas das fogueiras. Os cristãos, vencedores do paganismo, de perseguidos passaram a perseguidores. Foi com ferro e fogo que passaram a impor a Cruz do Cordeiro Divino sem mácula, nos dois mundos.
É um fato indiscutível que as guerras de religião sempre foram as mais cruéis e as que fizeram mais vítimas que as guerras políticas e que em nenhuma outra foram praticados tantos atos de atrocidade e de terror!
Cabe culpa à doutrina do Cristo?
Não! Certamente não lhe cabe a culpa, porque Ele condena formalmente toda violência. Disse Jesus, alguma vez, a seus discípulos: “Ide, matai, massacrai, queimai todos aqueles que não creiam como vós”? – Não, não disse isso, pois lhes disse o contrário: “Todos os homens são irmãos e Deus é soberanamente misericordioso; amai o vosso próximo; amai os vossos inimigos; fazei o bem para todos aqueles que vos perseguem”. E lhes disse ainda: “Quem matar com a espada, pela espada perecerá”.A responsabilidade pelas guerras religiosas e pelas perseguições infamantes movidas por algumas seitas cristãs não pode ser atribuída à doutrina de Jesus. Os culpados, porém, são aqueles que falsamente interpretaram a doutrina cristã, dela fazendo um instrumento para servir as suas paixões pessoais. Esses são os que fizeram por desconhecer estas palavras de Jesus: “O meu reino não é deste mundo”.
Jesus, na sua profunda sabedoria, previu o que deveria acontecer. Mas essas coisas eram inevitáveis, porque nasciam da inferioridade dos homens, que não poderiam transformar-se moralmente num repente. Era necessário que o cristianismo passasse por essa prova longa e cruel de dezoito séculos, para mostrar toda a força de sua verdade. É que, apesar de todo o mal praticado em seu nome, o cristianismo saiu puro. O cristianismo, em si, jamais esteve nessas questões das seitas e dos homens. As acusações do mal sempre caíram sobre aqueles que do cristianismo abusaram. A cada ato de intolerância, sempre se disse: “Se o cristianismo fosse melhor compreendido e mais praticado, isso não teria acontecido”.

16. Quando Jesus disse: – Não creiais que eu tenha vindo trazer a paz, mas a divisão” – o seu pensamento era o seguinte: “Não pensem que a minha doutrina se estabeleça de modo pacifico. Ela trará lutas sangrentas, para as quais o meu nome será a desculpa para desencadeá-las. É que os homens não me terão compreendido ou não terão querido me compreender. “Os irmãos, separados pelas suas crenças, lançarão a espada uns contra os outros, e a divisão reinará entre os membros de uma mesma família, que não partilhem da mesma crença. Eu vim lançar o fogo sobre a Terra, para fazê-la consumir os erros e os preconceitos, do mesmo modo que se põe fogo num campo para queimar as ervas daninhas. E tenho pressa para que o fogo se acenda, para que a depuração seja mais rápida. Desse conflito a verdade sairá triunfante. “À guerra sucederá a paz. Aos ódios dos partidos religiosos sucederá a fraternidade universal. Às trevas do fanatismo sucederá a luz da fé esclarecida. “Então, quando o campo dos corações humanos estiver preparado para a verdade, eu lhes enviarei o Consolador, o Espírito de Verdade, que virá restabelecer todas as coisas, ou seja, que os fará conhecer o verdadeiro sentido de minhas palavras.
“Os homens, passando a ser mais esclarecidos, poderão compreendê-las e, com isso, colocarão um final na luta em que irmãos matam seus próprios irmãos, por estarem divididos esses irmãos como se fossem inimigos, quando são filhos do mesmo Deus. “Cansados, enfim, de um combate sem solução, que só resulta em desolação e perturbação no seio das famílias, os homens reconhecerão onde se encontram os seus verdadeiros interesses, no que se refere a este mundo e ao mundo espiritual. Eles verão de que lado estão os amigos e os inimigos de sua tranqüilidade. Todos, então, virão abrigar-se sob a mesma bandeira: a da caridade. E as coisas serão restabelecidas sobre a Terra, segundo a verdade e os princípios que eu, aí, lhes ensinei”.

17. O Espiritismo vem realizar, no tempo predito, as promessas do Cristo. No entanto, não pode realizá-las sem destruir os abusos. Do mesmo modo que ocorreu com Jesus, o Espiritismo enfrenta o orgulho, o egoísmo, a ambição, a cobiça, o fanatismo religioso cego que, cercados em seus últimos refúgios, tentam barrarlhe o caminho e levantam contra ele os entraves e perseguições. Por isso ele também tem de lutar.
A época, porém, das lutas e perseguições sanguinolentas já passou. As lutas que o Espiritismo tem de suportar são de ordem moral e o final dessas lutas está próximo. As lutas do cristianismo duraram séculos. As do Espiritismo durarão apenas alguns anos, porque a luz, ao invés de partir de um só foco, agora surge em todos os pontos da Terra e abrirá mais rápido os olhos aos cegos. 18. Aquelas palavras de Jesus devem, portanto, ser entendidas como as cóleras que, segundo o próprio Mestre previa, a sua doutrina provocaria, os conflitos temporários que surgiriam pelas conseqüências morais, as lutas que teria que sustentar até se estabilizar, do mesmo modo que aconteceu com os hebreus antes de entrarem na Terra da Promissão.
Não há, conseqüentemente, nesses conflitos, nenhum desejo premeditado de semear desordens e confusões. O mal deveria vir dos homens e não d’Ele. Jesus estava na posição de médico das almas, que vem para curar, mas cujos remédios provocam uma crise salutar, agitando o discernimento dos enfermos morais.
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